A difícil arte de tratar o autismo

Autismo é uma condição crônica, que se caracteriza pela presença de prejuízos importantes em várias áreas de atuação da pessoa, e, por estas razoes, o tratamento deverá ser sempre conduzido por uma equipe de profissionais que tenham o conhecimento aprofundado sobre o autismo e a família.
Uma analogia muito frequente feita é aquela na qual a criança com autismo é vista como uma criança inteiramente normal, presa no interior de uma redoma de vidro que a isola do mundo exterior. Esta forma de entender o quadro do autismo dá a falsa impressão de que, uma vez quebrada a tal redoma, estaremos frente a uma criança normal que saiu ou emergiu do seu estado de autismo.

Na verdade, o impedimento ao relacionamento com o meio exterior está no modo de funcionamento anormal do Sistema Nervoso Central e não em algum fator externo à pessoa com o autismo.

Outro aspecto que devemos ter em mente ao discutir os tratamentos disponíveis é o fato de que não temos, pelo menos até os dias atuais, como “curar” as pessoas com autismo. Cura, segundo os critérios médicos tradicionais, seria conseguir que as pessoas com autismo passassem a se comportar, em todos os sentidos, como os indivíduos considerados normais, e sabemos que isto não ocorre. O que conseguimos, com freqüência, é reduzir os comportamentos anormais e minimizar os prejuízos presentes.

O tratamento somente poderá ser proposto em bases racionais, uma vez que se tenha obtido um perfil de funcionamento da pessoa com autismo em todas as áreas possíveis, e os pais ou responsáveis deverão estar cientes das possibilidades e das limitações de seu filho, e participar da atuação. Um plano de ação deverá ser construído, considerando todas as possibilidades (idade, grau de comprometimento, habilidades, principais dificuldades,..) sempre com intuito de tornar a pessoa o mais independente possível em todas as áreas de atuação e no meio social, escolar e familiar.

Absolutamente todas as pessoas com autismo requerem alguma forma específica de educação, e algumas intervenções comportamentais. Temos visto algumas exceções quanto a pessoas com autismo leve e que tem sido capazes de acompanhar o currículo normal em escolas regulares. Todavia, seguramente, estes casos representam exceções a regra geral.

A participação do psicólogo na equipe de diagnóstico e tratamento é imprescindível no que se refere tanto a avaliação quanto ao trabalho de orientação sistemática a família e, eventualmente, ao trabalho de tipo psicoterapêutico em alguns poucos de bom rendimento. De modo geral, entretanto, o tratamento psicoterapêutico de base analítica não deve ser utilizado na grande maioria das pessoas com autismo, uma vez que se conhece o prejuízo da linguagem envolvendo a compreensão literal do discurso, a dificuldade que apresentam, em geral, para a compreensão de metáforas, a dificuldade na simbolização,….
Além disso, não podemos esquecer que em média 70 % dos casos, apresentam um grau de deficiência mental associada, outro aspecto que torna este tipo de terapia de indicação ainda mais reservada.

As técnicas de Modificação Comportamental tem tido resultados interessantes no tratamento , particularmente nos casos clássicos. Estas técnicas tem sido amplamente utilizadas e com resultados bastantes satisfatórios. Podem ser empregadas para reforçar habilidades sociais, acadêmicas e relacionadas as atividades de vida diária. Técnicas comportamentais podem representar um valioso auxiliar na sala de aula, onde uma tarefa complexa pode ser quebrada em etapas lógicas facilitando o aprendizado do aluno; uma série de “dicas’’ verbais ou físicas poderão ser relacionadas aos estágios, e o aprendizado poderá ser reforçado por recompensas.

Métodos comportamentais também poderão ser utilizados para tentar reduzir comportamentos indesejáveis que interferem no funcionamento da criança. Ignorar comportamentos anormais e recompensar comportamentos desejáveis pode ser uma forma específica e simples de ajudar a criança.

Crianças com autismo tratadas de forma precoce e intensa com técnicas comportamentais podem apresentar melhoras significativas e persistentes. Indiscutivelmente as intervenções educacionais ou pedagógicas são aquelas que podem trazer resultados mais significativos, e a escolha dessas abordagens dependerá das características de cada caso. Os objetivos das intervenções educacionais dependerão, em grande medida, do grau de comprometimento presente. Nos casos com prejuízos cognitivos importantes, os esforços deverão se dirigir, de forma mais específica, para tentativa de aumentar a comunicação e as interações sociais, para a redução das alterações comportamentais (estereotípias, hiperatividade etc.), para a maximização do aprendizado, e para a independência nas atividades de vida diária.

Sabe- se que crianças com autismo respondem melhor, em geral, em classes pequenas e bem estruturadas. O tipo de escola dependerá, de certa forma, do grau de comprometimento da criança em vários aspectos do comportamento e cognição. Um tipo de programa educacional que tem sido utilizado com bons resultados foi elaborado pela Division TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Related Communication Handicapped Children): trata- se de programa aplicado inicialmente no Estado da Carolina do Norte, nos Estados- Unidos, e que vem sendo utilizado em vários países do mundo, entre os quais o Brasil.

Enfim, o tratamento mais adequado a cada pessoa com autismo continua sendo uma incógnita universal, assim como todos os outros temas relacionados à causas, funcionamento neurológico, genética,…do autismo. Com isso, procuramos seguir um consenso científico e estatístico, que mostra as melhores e mais seguras possibilidades de tratamento, pensando num futuro funcional e independente, sem esquecer é óbvio que estamos no Brasil, não temos apoio governamental e precisamos prover tais possibilidades ao máximo de famílias e pessoas com autismo

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